Aprendi também que, quando olhamos para nossa vida e tudo que faz parte dela – família, amigos, trabalho –, precisamos encará-la por um ângulo diferente, mais humano e sensível aos acontecimentos.
Foi então que, aos 50 anos, me veio o seguinte questionamento: Tinha medo de que alguém me perguntasse o que eu tinha feito da minha vida além de estudar e trabalhar.
Os primeiros cliques aconteceram na Tailândia, em 2014. Não sabia ao certo o motivo da minha obsessão pelas montanhas, mas, quando li o livro A Arte de Viajar, entendi o que buscava. Tenho uma admiração especial pela Ásia, talvez pela filosofia de vida e pela riqueza espiritual de seu povo. Parafraseio o escritor Alain de Botton, autor de A Arte de Viajar:
"Nossas vidas não são a medida de todas as coisas: considere os lugares sublimes como um lembrete da insignificância e da fragilidade humana. São os vastos espaços naturais que talvez nos ofereçam o melhor e mais respeitoso lembrete de tudo o que nos transcende. Se passarmos algum tempo nestes espaços, talvez nos ajudem a aceitar com mais elegância os grandes e inconcebíveis acontecimentos que molestam nossa vida."
Vi-me mergulhado, aos 50 anos de idade, no fascinante universo das lentes fotográficas – e dali não emergi mais.
Para aprimorar a técnica, fiz cursos e participei de diversos treinamentos, além de ler livros e guias práticos. A sensibilidade do olhar veio com o tempo. Aos poucos, passei a enxergar elementos que antes não percebia, como, por exemplo, um esplêndido cenário natural, um entardecer que confere charme à foto ou um feixe de luz em meio à sombra. Com a experiência, vieram também as oportunidades de levar meu hobby para além do visor da câmera: vez ou outra, realizei exposições em hospitais e locais cuja estrutura me permitia exibir minhas fotografias.
A fotografia complementa outra paixão na minha vida: as expedições em alta montanha. Meu lado aventureiro já me levou a destinos fascinantes como Canadá, Nova Zelândia, Austrália, Nepal, Tailândia, Mongólia, Peru, Chile, Índia, Irã, Líbano e Jordânia – experiências que ficarão guardadas para sempre na memória e nos registros fotográficos. São destinos inóspitos e de grande valor histórico-cultural. Por vezes, o encantamento por esses lugares mistura-se ao desconforto de estar longe de casa, da fome, da fadiga – cheguei a caminhar por sete longas horas –, do medo do desconhecido e do frio pouco acolhedor.
Nunca se sabe o que haverá pela frente, e por isso o receio de seguir adiante. Mas a oportunidade de estar nesses locais e de eternizar esses momentos faz valer todo o esforço. Além disso, a hospitalidade da população é incrível. Quando passei pela Mongólia, fui até convidado para o aniversário de um morador local.
"Estava sozinho em minha barraca – parte de meus companheiros havia subido a montanha e parte havia ido embora – quando me convidaram para confraternizar, com direito a churrasco e comidas típicas. Foi muito interessante, eles são muito amigáveis."
Hoje, sinto-me livre para, junto com minha câmera, desbravar novos destinos. Depois de tantos anos dedicados ao estudo e ao trabalho na medicina, tenho tranquilidade para buscar novas experiências. Agora posso completar meu questionamento:
Tinha medo de que alguém me perguntasse o que eu tinha feito da minha vida além de estudar e trabalhar.
Agora, não mais.

Sobre mim
Em 2010, passei a vivenciar um hobby: fotografar. Mas não sabia muito bem o porquê. Nasci em Belo Horizonte (MG), sou médico e professor da Faculdade de Medicina da PUC/SP. Meu tempo era quase inteiramente voltado ao estudo e à prática da medicina.
Buscava uma atividade à qual pudesse me dedicar nas poucas horas de descanso. Aprendi, com as câmeras, que a vida pode ser muito mais do que preencher relatórios ou cumprir tarefas rotineiras: ela pode ser verdadeiramente vivida. O tempo é algo precioso e que não volta mais, por isso deve ser aproveitado intensamente, da melhor maneira possível.